Aqui vamos nós mais uma vez
para uma aventura pelo fascinante organismo humano, para entender melhor como este
responde a certos golpes ou agressões lancinantes em determinadas partes
consideradas vitais.
Nosso sistema fisiológico é tão
fascinante, complexo e simples ao mesmo tempo que chega a ter um botão de
liga/desliga para casos extremos. No desmaio, por exemplo, a intenção do
“desligar” pode ser de colocar o corpo na horizontal, facilitando o retorno do
sangue para o cérebro através da normalização da pressão sanguínea. E o que
aconteceria com um atleta ao sofrer um golpe no queixo ou na cabeça? Já vimos isso acontecer várias vezes, e digo sem pestanejar que chega a ser bonito quando encaixado perfeitamente. O soco nocauteador de Dan Henderson sobre
Michael Bisping no UFC 100, que lhe rendeu a vitória, foi um desses de arrepiar. Não poderia esquecer do soco “sem noção” que Big Show, astro da WWE, aplicou num
árbitro durante um show no ano passado, nocauteando o sujeito, e dessa vez não foi nada combinado. O entendimento
do que se passa com o organismo no exato momento do golpe se torna no mínimo intrigante, e aqui apresento
algumas explicações, se me permitam.
Henderson nocauteia Bisping no UFC 100 |
No caso de um soco
ou chute acertando a cabeça ou a ponta do queixo de um atleta com determinada força, o estímulo que o
cérebro recebe com a pancada é muito intenso e maçante para ser processado de
forma instantânea. A mecânica da entrada de um golpe na ponta do queixo faz a cabeça girar mais rapidamente, aumentando o "chicotear" do cérebro dentro da calota craniana. Assim, reações químicas e elétricas são ativadas rapidamente de
forma desordenada, provocando praticamente uma pane no sistema, como se o
"computador humano" não pudesse processar toda a informação e travasse, levando a um
apagão na tentativa de reiniciá-lo de forma harmônica. Assim, quando dizemos
que um lutador tem um “queixo duro” significa dizer duas coisas: que o cérebro do cidadão
consegue processar o estímulo de forma mais rápida do que o normal ao ser acertado; ou que a musculatura do pescoço do atleta consegue amortecer o movimento brusco após o impacto, o que pode ser conseguido com treinamento específico, inclusive. Anderson Silva, Mauricio Rua, Dan Henderson, Roy Nelson, Rampage Jackson, dentre outros, estão neste seleto grupo de duros na queda.
O que é muito discutido entre todos, mas sem haver estudos comprovando o fato (mito!?), é o possível aumento na lentidão da resposta em caso de golpes repetidos na cabeça ao longo da vida do lutador, o que poderia tornar o atleta mais sensível a golpes. Em outras palavras, seria como se o nosso computador ficasse ultrapassado e precisasse ser reiniciado, com um apagão, toda vez que determinado processamento não fosse possível, deixando o lutador com o chamado “queixo de vidro”.
Amnésias também são muito recorrentes com este tipo de nocaute e a maior preocupação é com a concussão cerebral, que seria um dano potencialmente fatal com edema e inflamação dessa estrutura vital. Recentemente, Eduardo Dantas foi nocauteado por Tyson Nam no Shooto 33, e por proteção e cautela médica teve que ficar pelo menos 2 meses sem competir, segundo informou o site da Tatame. Aí vem a importância da criação de comissões atléticas que protejam como um todo a integridade do atleta.
O que é muito discutido entre todos, mas sem haver estudos comprovando o fato (mito!?), é o possível aumento na lentidão da resposta em caso de golpes repetidos na cabeça ao longo da vida do lutador, o que poderia tornar o atleta mais sensível a golpes. Em outras palavras, seria como se o nosso computador ficasse ultrapassado e precisasse ser reiniciado, com um apagão, toda vez que determinado processamento não fosse possível, deixando o lutador com o chamado “queixo de vidro”.
Amnésias também são muito recorrentes com este tipo de nocaute e a maior preocupação é com a concussão cerebral, que seria um dano potencialmente fatal com edema e inflamação dessa estrutura vital. Recentemente, Eduardo Dantas foi nocauteado por Tyson Nam no Shooto 33, e por proteção e cautela médica teve que ficar pelo menos 2 meses sem competir, segundo informou o site da Tatame. Aí vem a importância da criação de comissões atléticas que protejam como um todo a integridade do atleta.
Outro golpe capital e que
pode decidir uma luta é quando o lutador acerta o fígado do oponente. Muito
tradicional no boxe, desferidos através dos ganchos na linha de cintura, ainda não é muito explorado no MMA, mas podemos dizer que Junior “Cigano” do Santos, com seu boxe afiadíssimo, vem tentando minar seus
adversários com golpes como esse, e candidatos a nocaute não faltam. Talvez o golpe no fígado mais marcante do MMA recente tenha sido o chute certeiro
de Overeem sobre Brock Lesnar no UFC 141, o que praticamente decidiu a luta para o holandês, mestre da trocação.
Chute certeiro no fígado de Overeem sobre Lesnar |
Para quem não sabe, o fígado
é responsável por várias funções como digestão, armazenamento de energia,
preparação na eliminação de substancias tóxicas dentre outras. Essas funções nada tem relação com o resultado de um golpe certeiro no orgão, e de acordo com relatos de lutadores, a dor é incapacitante e a respiração é desesperadoramente prejudicada. Mas, por que?
Poderíamos caminhar pelas seguintes explicações: a dor pode ser intensa devido ao fato de o fígado ser um orgão com inervação extensa e também pelo seu tamanho e localização mais superficial em relação às outras vísceras, situado no quadrante abdominal direito superior, ou seja, é mais exposto; e devido a proximidade com o nervo frênico, responsável por estimular o diafragma que é o principal músculo respiratório, este seria inibido após a pancada, dificultando a respiração. Diferentemente do golpe na cabeça, o atleta preserva a consciência mas o corpo não responde aos comandos cerebrais, como se os músculos fossem desarmados, ou seja, a chave do desliga mais uma vez é acionada, só que dessa vez o circuito é interrompido no comando do cérebro com a periferia. Não consegui achar estatísticas de morte devido a golpes hepáticos, mas dependendo da força de impacto, a lesão pode ser mortal, e nem sempre um transplante resolverá a história.
De qualquer maneira, tanto um golpe quanto outro, podem decidir uma luta. A noção do quanto nosso organismo é afetado por certas agressões vão sendo melhor elucidadas ao longo do tempo e não à toa, o árbitro tem o poder de interromper a luta nos dois casos, para impedir um estrago ainda maior nos superguerreiros para também preservá-los, claro, para espetáculos futuros.
Obrigado mais uma vez por acompanhar o blog. Comente e deixe sua opinião. Ajude a engrandecer o debate. Até a próxima!
Luiz Prota, PhD
www.twitter.com/LuizProta
www.facebook.com/LuizProtaEI
Poderíamos caminhar pelas seguintes explicações: a dor pode ser intensa devido ao fato de o fígado ser um orgão com inervação extensa e também pelo seu tamanho e localização mais superficial em relação às outras vísceras, situado no quadrante abdominal direito superior, ou seja, é mais exposto; e devido a proximidade com o nervo frênico, responsável por estimular o diafragma que é o principal músculo respiratório, este seria inibido após a pancada, dificultando a respiração. Diferentemente do golpe na cabeça, o atleta preserva a consciência mas o corpo não responde aos comandos cerebrais, como se os músculos fossem desarmados, ou seja, a chave do desliga mais uma vez é acionada, só que dessa vez o circuito é interrompido no comando do cérebro com a periferia. Não consegui achar estatísticas de morte devido a golpes hepáticos, mas dependendo da força de impacto, a lesão pode ser mortal, e nem sempre um transplante resolverá a história.
De qualquer maneira, tanto um golpe quanto outro, podem decidir uma luta. A noção do quanto nosso organismo é afetado por certas agressões vão sendo melhor elucidadas ao longo do tempo e não à toa, o árbitro tem o poder de interromper a luta nos dois casos, para impedir um estrago ainda maior nos superguerreiros para também preservá-los, claro, para espetáculos futuros.
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parabéns pelo texto, vlw!
ResponderExcluirmuito bom cara!
ResponderExcluirMuito bom esse texto! Obrigada!
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