A dor é
uma experiência sensorial e emocional desagradável que pode ser associada a uma
lesão real ou potencial. É fundamental para o ser humano, e digo isso sem ser
sado-masoquista ou coisa parecida. Basta prestar atenção nas reações de
proteção que ela confere para o nosso organismo, por exemplo, quando queimamos
a mão em algo quente e automaticamente retiramos o membro do local. Sem ela, os
danos de algo lesivo ao corpo podem ser maiores.
Nos
esportes de combate, o organismo é colocado em xeque o tempo todo, daí uma
série de reações e processos químicos ocorrem no organismo para manter sua
preservação. Em muitas vezes, aquele que não administra a dor durante um
combate pode se dar mal. Mas nem sempre isso é possível, afinal, não somos
máquinas.
Na sua
primeira defesa de cinturão dos pesos-pena pelo WEC, José Aldo castigou a perna
esquerda de Urijah Faber, na tentativa de inutilizá-la, e conseguiu. Tanto que
o americano passou praticamente a luta inteira protegendo o membro atingido,
devido, principalmente, à dor intensa.
José Aldo castigando a perna de Faber Resultado pós luta |
O mesmo já
não aconteceu com Antonio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, que teve o braço
quebrado ao ser submetido com uma kimura por Frank Mir. Se tivesse obedecido
aos sinais da dor durante a torção de seu braço e batido, provavelmente isso
não teria acontecido. Onde há dor, sempre há problema!
Apesar de
ser uma sensação subjetiva e de difícil mensuração, o componente psicológico pode
ser modificado e influenciado por fatores culturais, étnicos, sociais e
ambientais. Seu controle se torna importante para lutadores, coisa que esses
atletas aprendem a fazer ao longo da vida profissional. Às vezes, uma
demonstração de dor durante uma luta, pode indicar o ponto fraco para o
oponente atacar. A dor pode estar presente mas o atleta aprende a não
demonstrá-la, mas nem sempre consegue.
E ao
contrário do que muitos pensam, submeter o organismo a estímulos de dor
repetitivos, como em treinamentos,
não faz com a tolerância à dor seja maior. Estudos indicam que quando se
aumenta o corpo à exposição à dor dessa maneira, esses estímulos tendem a
aumentar ainda mais a sensação da dor a longo prazo. A explicação fisiológica
pra isso se dá no aumento da rapidez com que as células do local afetado passam
a responder ao estimulo, como se a prontidão para sinalizar a dor ficasse
maior. Isso pode deixar o corpo mais sensível.
Minotauro com o braço quebrado após finalização de Mir no UFC 140 |
Essa
teoria vai contra o mito de que lutadores de artes marciais tem uma resistência
à dor maior do que outros esportistas. Para isso, é importante saber as
diferenças entre tolerância, o quanto o corpo suporta de dor, e limiar, o
mínimo de estímulo necessário para
o individuo senti-la.
Pelo fato
de a dor ser subjetiva, fica difícil avaliar esse tipo de mecanismo. Apesar
disso, algumas pessoas podem ter o limiar de dor maior, o que pode ser considerado
uma alteração genética, e qualquer um, inclusive lutadores de MMA, pode apresenta-lo.
Já
imaginou não sentir dor nenhuma? Esta doença existe, é um caso extremo e compõe
a Síndrome de Riley-Day. Mas isso é outra história…
Voltando
ao assunto, existem ainda confirmações científicas considerando que o exercício
físico aumenta o limiar de dor e sua tolerância. Isso se daria pela liberação
de endorfina, uma substância que possui efeito analgésico, comparável a morfina.
Esse é um fator importante envolvido na diminuição da sensibilidade à dor durante o exercício, o que não seria
exclusivo de lutadores, sendo observado também em corredores, nadadores e
demais atletas de altíssima performance. Quem nunca se machucou durante uma “pelada” e só depois de um tempo começou
a sentir a dor? É por aí.
Também, em
momentos de estresse, como no caso da luta ou situação de perigo, o corpo aumenta ainda mais essa
guerra química, produzindo grandes quantidades de adrenalina e noradrenalina,
substâncias importantes no controle de pressão e do metabolismo, e que conferem
ao corpo maiores tolerância e limiar à dor.
Atletas e
lutadores de alto nível, geralmente, convivem com essa companheira chamada dor
durante os treinamentos e no dia-a-dia. Precisam sempre se aperfeiçoar e manter
um ritmo alucinante de exercícios para se manterem no topo, ou para chegarem
lá. Mas uma coisa é certa nisso tudo: lutador treina para evitar golpes e não
para sentir menos dor quando sofre um, isso pode significar a derrota.
Luiz Prota, PhD
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