terça-feira, 21 de agosto de 2012

MMA – A PERDA RÁPIDA DE PESO ANTES DE UMA LUTA É NOCIVA AO ATLETA?



Todos aqueles que acompanham o mundo da luta já fizeram essa pergunta do título que escolhi pra este post aqui no blog.
Os atletas de MMA, judô, jiu-jítsu e luta olímpica, dentre outras modalidades, são submetidos constantemente a um ritual de perda de peso que faz parte de suas vidas de competidores.
Alguns dias ou semanas antes das lutas, aqueles que precisam se adequar aos limites de certa categoria de peso precisam cortar alguns “kilinhos”. Se isso for feito com “semanas” antes da luta (19 dias), os estudos indicam que não existem grandes problemas para a saúde do atleta, mas o ponto crucial é quando a prática é realizada com “dias” (7 a 10 dias) antes do evento.
Para conseguir o feito de secar o peso, alguns atletas adotam certos procedimentos tradicionais, como: restrição alimentar, com dieta rígida; realização de exercícios aeróbicos intensos; desidratação alcançada pela restrição da ingestão de líquidos, pelo uso de saunas ou banheiras com água aquecida e pelo treinamento em ambientes quentes, muitas vezes com uso de roupas de plástico e borracha. Em alguns momentos, atletas desesperados chegam a induzir diarréia com laxativos, fazem uso de diuréticos, pra aumentar o liquido na urina, ou mesmo forçam o vômito.
Todo o esforço é válido (?) para fechar essa conta maluca onde o que entra (alimentação e hidratação) no organismo precisa ser inferior ao que sai (suor, urina) do mesmo e, geralmente, um dia antes da luta no caso do MMA, ou algumas horas antes no caso do judô, o peso ideal deve ser alcançado, caso contrário, todo o esforço pode ter sido em vão!
O tempo de recuperação após a pesagem antes da luta serve para os lutadores capricharem na hidratação e na alimentação. O soro fisiológico na veia é muitas vezes utilizado assim como a alimentação rica em carboidratos (macarrão, arroz) e proteínas (complementos alimentares) como principais formas de recuperação de peso.
Uma pergunta vem logo à cabeça: por que não lutar então na categoria de peso original pra não precisar passar por todo esse sofrimento? A resposta vem com outra pergunta: como a maioria esmagadora luta na categoria abaixo do peso ideal, você entraria num cage contra alguém com 9-10 kg a mais do que você? Nos dias de hoje seria loucura, certamente.
Como estamos vendo então, sem dúvida nenhuma, para alguns lutadores, a luta mais difícil começa mesmo antes do evento. Não é à toa que as pesagens também são tratadas como espetáculos. Um bom exemplo é o caso do lutador campeão dos penas do UFC, José Aldo, que chega a cortar 10 kg em 1 semana para bater os 66kg da categoria e recupera quase tudo em 24 horas. Anderson Silva no entanto não costuma sofrer muito para bater o peso ideal para a categoria dos médios (84 kg). Na última luta contra Chael Sonnen, ele chegou a Las Vegas com 90 kg e precisou cortar 6 kg na última semana, o que não foi tão complicado assim, e o acompanhamento de um nutricionista foi fundamental para atingir essa meta.
José Aldo com cerca de 10kg a menos 1 dia antes da luta (UFC 136)
Mas qual seria o impacto do corte/recuperação de peso no desempenho e na saúde dos atletas quando realizado em curto tempo?
Como os efeitos sobre o organismo de um individuo são muitos, tentarei focar em alguns pontos que julgo mais importantes.
Primeiramente, se formos olhar para a função aeróbica, que é o que vai determinar a resistência do atleta, o cansaço pode ser maior do que o normal. Isso aconteceu no The Ultimate Fighter Brasil, onde a maioria dos lutadores não tinha tempo para cortar e recuperar o peso e mal conseguiam chegar ao terceiro round inteiros, já que eles tinham 3 meses para ficar no peso ideal o que os desgastava demais. Com relação a isso alguns estudos mostram que após 5 horas de recuperação de peso esse efeito pode ser reduzido. 
A produção de hormônios que promovem o crescimento, por exemplo, também pode ser prejudicada mas talvez a mais polêmica tem sido a redução da testosterona, hormônio responsável pela virilidade e aumento da força muscular. Com isso, muitos atletas vêm pedindo autorização para uso de terapia de reposição hormonal, já que os níveis sanguíneos deste hormônio encontram-se reduzidos, o que acontece geralmente com atletas com mais de 30 anos. A polêmica aparece quando os níveis de testosterona sanguíneos ficam acima do nível permitido para as competições, o que é considerado doping. Recentemente, os atletas Chael Sonnen, Frank Mir, Shane Roller, Todd Duffee e Dan Henderson, conseguiram a liberação para tal reposição hormonal. Se é justo ou não, isso é outra questão.
Ainda, atletas submetidos a dieta de baixa caloria podem apresentar alteração no estado psicológico como: aumento do estado de confusão, depressão, raiva, fadiga mental, tensão, depressão e sentimento de isolamento. E essas variáveis levam à diminuição do vigor e da auto-estima do lutador. A recuperação para a condição normal nestes casos pode levar em torno de 3 dias.
Pesagens do UFC são um espetáculo à parte
Com tantas alterações no organismo dos lutadores, os efeitos a longo prazo da perda de peso frequente assim como a recuperação rápida do que foi perdido, devem chamar a atenção dos atletas para que compitam em categorias de peso que lhes são ideais. Com o mundo da luta, especialmente o MMA, girando grandes quantidades de dinheiro mundo afora, é plausível que a preocupação com os atletas e o aprimoramento da medicina ganhem cada vez mais espaço nas discussões sobre o esporte.
Espero ter contribuído um pouco para mantermos essa peteca no ar, para valorizarmos cada vez mais os lutadores que literalmente se entregam por inteiro em nome do espetáculo e do esporte.

Luiz Prota, PhD




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