sexta-feira, 31 de agosto de 2012

OS LUTADORES E A TOLERÂNCIA À DOR – VERDADES E MITOS.



A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável que pode ser associada a uma lesão real ou potencial. É fundamental para o ser humano, e digo isso sem ser sado-masoquista ou coisa parecida. Basta prestar atenção nas reações de proteção que ela confere para o nosso organismo, por exemplo, quando queimamos a mão em algo quente e automaticamente retiramos o membro do local. Sem ela, os danos de algo lesivo ao corpo podem ser maiores.
Nos esportes de combate, o organismo é colocado em xeque o tempo todo, daí uma série de reações e processos químicos ocorrem no organismo para manter sua preservação. Em muitas vezes, aquele que não administra a dor durante um combate pode se dar mal. Mas nem sempre isso é possível, afinal, não somos máquinas.
Na sua primeira defesa de cinturão dos pesos-pena pelo WEC, José Aldo castigou a perna esquerda de Urijah Faber, na tentativa de inutilizá-la, e conseguiu. Tanto que o americano passou praticamente a luta inteira protegendo o membro atingido, devido, principalmente, à dor intensa.

                              José Aldo castigando a perna de Faber       Resultado pós luta                              
O mesmo já não aconteceu com Antonio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, que teve o braço quebrado ao ser submetido com uma kimura por Frank Mir. Se tivesse obedecido aos sinais da dor durante a torção de seu braço e batido, provavelmente isso não teria acontecido. Onde há dor, sempre há problema!
Apesar de ser uma sensação subjetiva e de difícil mensuração, o componente psicológico pode ser modificado e influenciado por fatores culturais, étnicos, sociais e ambientais. Seu controle se torna importante para lutadores, coisa que esses atletas aprendem a fazer ao longo da vida profissional. Às vezes, uma demonstração de dor durante uma luta, pode indicar o ponto fraco para o oponente atacar. A dor pode estar presente mas o atleta aprende a não demonstrá-la, mas nem sempre consegue.
E ao contrário do que muitos pensam, submeter o organismo a estímulos de dor repetitivos,  como em treinamentos, não faz com a tolerância à dor seja maior. Estudos indicam que quando se aumenta o corpo à exposição à dor dessa maneira, esses estímulos tendem a aumentar ainda mais a sensação da dor a longo prazo. A explicação fisiológica pra isso se dá no aumento da rapidez com que as células do local afetado passam a responder ao estimulo, como se a prontidão para sinalizar a dor ficasse maior. Isso pode deixar o corpo mais sensível. 
Minotauro com o braço quebrado após finalização de Mir no UFC 140
Essa teoria vai contra o mito de que lutadores de artes marciais tem uma resistência à dor maior do que outros esportistas. Para isso, é importante saber as diferenças entre tolerância, o quanto o corpo suporta de dor, e limiar, o mínimo de  estímulo necessário para o individuo senti-la.
Pelo fato de a dor ser subjetiva, fica difícil avaliar esse tipo de mecanismo. Apesar disso, algumas pessoas podem ter o limiar de dor maior, o que pode ser considerado uma alteração genética, e qualquer um, inclusive lutadores de MMA, pode apresenta-lo. 
Já imaginou não sentir dor nenhuma? Esta doença existe, é um caso extremo e compõe a Síndrome de Riley-Day. Mas isso é outra história…
Voltando ao assunto, existem ainda confirmações científicas considerando que o exercício físico aumenta o limiar de dor e sua tolerância. Isso se daria pela liberação de endorfina, uma substância que possui efeito analgésico, comparável a morfina. Esse é um fator importante envolvido na diminuição da sensibilidade à dor durante o exercício, o que não seria exclusivo de lutadores, sendo observado também em corredores, nadadores e demais atletas de altíssima performance. Quem nunca se machucou durante uma “pelada” e só depois de um tempo começou a sentir a dor? É por aí.
Também, em momentos de estresse, como no caso da luta ou situação de perigo, o corpo aumenta ainda mais essa guerra química, produzindo grandes quantidades de adrenalina e noradrenalina, substâncias importantes no controle de pressão e do metabolismo, e que conferem ao corpo maiores tolerância e limiar à dor.
Atletas e lutadores de alto nível, geralmente, convivem com essa companheira chamada dor durante os treinamentos e no dia-a-dia. Precisam sempre se aperfeiçoar e manter um ritmo alucinante de exercícios para se manterem no topo, ou para chegarem lá. Mas uma coisa é certa nisso tudo: lutador treina para evitar golpes e não para sentir menos dor quando sofre um, isso pode significar a derrota. 
Luiz Prota, PhD
Comente, deixe perguntas ou diga um alô. Obrigado pelo prestígio!

13 comentários:

  1. Valeu por esclarecer, estava procurando um blog como este há muito tempo. Parabéns pelo texto!

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    1. Valeu pelo comentário. Toda semana novas atualizações! abraçø!

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  2. Você poderia fazer uma matéria sobre tolerância a dor dos pro-wrestlers. Saiba que pro-wrestling não é só WWE.Se você procurar por Abdulah the butcher, Sabu, The Sandman, Original Sheik, verá exemplos de wrestlers que se feriam muito nos combates e toleravam bem a dor. Procure sobre Deathmatch e Hadrcore Wrestling.

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  3. Muito bom os seus textos cara, parabéns pelo Blog. Os caras sofrem no MMA... Valeu.

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  4. HUMMMM MUITO BOM SEU BLOG BASTANTE INTERESANTE E FAALNDO DE WWE LOGO EU QUE SO UM DOS MAIORES FÃS DA WWE DO BRASIL NÉ
    KKKKKKKKKK

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    1. Valeu por ter curtido. Vem mais textos por aí. Abração!

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  5. Voce poderia fazer uma matéria relacionada a pro-wrestling e todos os seus estilos, sendo eles pressing catch, lucha-libre, hardcore wrestling e puroresu... alem de citar as maiores lendas dos 4 estilos apresentados, e complementar a matéria com lutas memoráveis de ambos os estilos, de preferencia onde uma das lendas(el santo, rikidozan, hulk hogan) esteja presente? lembrando que o hardcore wrestling não tem apenas um ÍCONE e sim um conjunto de wrestlers que fizeram história neste estilo

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    1. Obrigado pela sugestão de tópico. Com certeza farei algo do genero. Abraçø!

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  6. Boa Luiz, gostando de ver meu garoto! Sucesso ai nos tópicos meu camarada. Abraço Arthur (Unicarioca)

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  7. Você poderia fazer um Top 10 de Golpes Baixos (ou golpes na "caixa de câmbio")...o que acha da ideia?

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  8. Obrigado pelas informações. Muito bom o texto. Valeu.

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